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sábado, 22 de outubro de 2016

Grande entrevista à Srª Drª Fernanda Santos presidente da Assembleia Municipal de Loures



Hoje apresentamos mais uma grande entrevista!

A Drª Fernanda Santos é a nossa convidada, desde já muito obrigado por ter aceitado o nosso convite.

O nosso convite à Drª Fernanda Santos é fácil de explicar, é uma mulher de Camarate, bem-sucedida, com um curriculum invejável para qualquer pessoa! Daí que tenha entendido que era preciso conversar com uma pessoa como a Fernanda para mostrar a todas as mulheres de Camarate (e não só) que sim, é possível! O seu curriculum fala por si:


Bibliotecária na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa desde 2000, foi também professora do ensino básico e secundário entre 1994 e 2000 em diversas escolas dos concelhos de Loures, Lisboa e Vila Franca de Xira

Eleita pela CDU na Assembleia de Freguesia de Camarate entre 1993 e 2005, tendo exercido o cargo de 1ª Secretária no mandato de 1993 a 1997 e na Assembleia Municipal de Loures entre 1997 e 2001 e desde 2005 até ao presente, sendo presidente deste órgão desde as eleições autárquicas de 2013;

Eleita na Junta de Freguesia de Camarate desde 2005 até ao presente

Foi dirigente e membro do Gabinete da Juventude de Camarate, associação de jovens com ampla actividade nesta freguesia, desde a sua fundação em 1989 até à sua extinção em 2001;


Jornal de Camarate - A Fernanda Santos é natural de Camarate? Quando puxa a memória atrás e recorda a nossa vila de Camarate, no seu tempo de infância, como vê Camarate agora, comparando a evolução dos tempos?

Fernanda Santos
- Vim morar para Camarate com 7 anos, para o Bairro CAR. A nossa vila foi mudando, desde logo com as novas construções, a CRIL, mas aquilo que me recordo bem era a sensação de espaço. Havia, e ainda há, as quintas que rodeavam a vila, as pessoas conheciam-se… e ainda hoje isso se mantém.

JC - Como começou, tão cedo, este interesse pela política?


Fernanda Santos - Aos 18 anos, juntamente com outros jovens de Camarate, integrei uma associação de jovens, o Gabinete da Juventude de Camarate que se começou por iniciativa da Junta de Freguesia de então. Cederam-nos uma sala no edifício da Junta e permitiram-nos o uso do salão e dos meios que dispunham para realizarmos as nossas actividades. Contactei assim com eleitos e apercebi-me do trabalho que faziam, de como funcionava uma autarquia, do que era ser autarca e trabalhar em prol da população. O interesse pela política veio de modo natural no seguimento disto: a uma vontade de fazer coisas juntou-se um modo de intervir na sociedade de modo mais directo. O exercício de um cargo político é um desses modos.

JC - Já passou por alguns cargos no PCP, qual foi aquele que mais gosto lhe deu desempenhar?

Fernanda Santos - Permita-me uma correcção: não tenho nem nunca tive nenhum cargo no PCP. Sou militante e integro-me num colectivo que reúne e age em prol da população. O ser membro da direcção concelhia ou da comissão de freguesia são tarefas e responsabilidades de direcção a nível local de organização e acção partidária. Não sei se para a maioria das pessoas isto será entendível, já que se tende a ver estas responsabilidades como algo diferente. Mas fazendo um paralelo com o movimento associativo é um pouco a diferença entre ser-se sócio e participar em iniciativas e fazer parte dos corpos sociais… salvo as devidas diferenças claro.

JC - E já agora qual o mais difícil e/ou desafiante?

Fernanda Santos - Estar à altura das responsabilidades que os meus camaradas entendem que deva ter.

JC - Em 2013 a Fernanda, assumiu, em nome da CDU, o compromisso de “manter em funcionamento todos os serviços actualmente existentes nas freguesias de Loures em que a CDU tiver a maioria, ampliando-os e melhorando-os onde possível”.
Julga que, de uma forma geral, desde essa altura isso tem sido feito com o sucesso previsto?

Fernanda Santos - Com toda a certeza que sim. Temos o exemplo da nossa união de freguesias, em que arbitrariamente o governo do PSD/CDS nos resolveu juntar a Unhos e à Apelação: a Junta de Freguesia manteve a funcionar todos os serviços de atendimento, nalguns casos alargou e reajustou horários e prestou outros serviços que já existiam em Camarate, como é o caso do Apoio ao Idoso e às Escolas e reorganizou os serviços administrativos e operacionais para funcionarem em rede e em conjunto.

JC - Ainda ao “Avante”, foi-lhe questionado:

“Quais as principais consequências da extinção de freguesias no concelho? A CDU compromete-se com a luta pelo restabelecimento integral das freguesias?”

Ao que a Doutora respondeu:

“Continuaremos a lutar pelo restabelecimento das freguesias. Em Loures elas diminuem de 18 para 10, criando verdadeiros «gigantes» com 35 ou 45 mil habitantes. Entretanto manteremos os serviços e os trabalhadores que existem em cada freguesia, defendendo os interesses das populações. E como temos dito, só há uma coisa pior do que estas agregações à força: é que elas não sejam geridas pela CDU.”

Três anos passados, o que acha da situação actual das uniões de freguesias? Vieram por bem? Isto é, se antes os eleitos para a JF Camarate apenas tinham que se concentrar nos problemas de Camarate agora, uma mesma equipa tem de olhar para Camarate, Unhos e Apelação. O alargamento das mesmas, criando os tais “gigantes” não veio prejudicar as freguesias, no nosso caso Camarate?


Fernanda Santos - Os “gigantes” prejudicaram todas as freguesias ao afastar os eleitos da população. Vou pegar novamente no nosso exemplo. Tínhamos 3 presidentes de Junta a tempo inteiro e mais 11 eleitos nas juntas que acompanham o que se passava e agiam de acordo com os seus pelouros para resolver o que era preciso. Neste momento temos um presidente e mais 6 eleitos na Junta. Não é possível conseguir chegar a todo o lado do mesmo modo que antes, embora em Camarate, com toda a gente que aqui mora e tantos problemas que temos, isso já fosse difícil.

JC - Camarate, tendo a densidade populacional que têm, com tantas quintas ao abandono, assim como enormes terrenos vazios, junto ao IP7 e ao aeroporto, nas “barbas” de Lisboa, não terá uma localização estratégica onde, aproveitando estes espaços, para criar empresas e empregos, tornar Camarate uma zona empresarial de muito sucesso?

Fernanda Santos - Sem dúvida que tem bons acessos agora, mas temos um grande problema: as nossas zonas industriais são loteamentos clandestinos na sua maioria e é necessário que haja organização dos proprietários para legalizar essas zonas e criando mais condições para que sejam ainda mais apetecíveis… E isso tem sido difícil de conseguir ao longo dos anos.

JC - E, já que falei nisso, as nossas Quintas, cheias de história mas actualmente vazias de tudo, não poderiam ser aproveitadas para jardins, serviços, um museu ou uma biblioteca, etc… Há o problema dos proprietários? Há o problema do dinheiro? É uma pena, para nós, termos tanto e, ao mesmo tempo, tão pouco. Não concorda?

Fernanda Santos - Dá-me imensa pena ver as nossas quintas ao abandono. São todas terrenos privados e cujos proprietários, por razões diversas, não tomam conta delas, seja por falta de dinheiro, porque não sabem mesmo o que fazer com elas. É evidente que poderiam ser aproveitadas para equipamentos ou zonas para usufruto de todos, tornando Camarate uma terra ainda mais apetecível para viver.

JC - Temos visto ultimamente uma forte aposta nas escolas de Camarate, muitas obras, requalificações e reconstruções. O ensino, e as condições onde o mesmo é prestado, são uma aposta forte, a prioridade, do executivo da CM Loures?

Fernanda Santos - São uma das principais apostas. Desde o início do mandato já foi gasto mais de um milhão de euros na requalificação das escolas. Em Camarate as escolas foram esquecidas pelo anterior Executivo municipal e só se construiu a Escola das Mós, projecto que já vinha de antes e foi consequência do realojamento das pessoas que viviam naquele local, e se começou a requalificação da Escola dos Fetais que estava muito degradada, esta por pressão dos pais. A nossa escola nº 1 foi encerrada e as crianças colocadas em contentores em Setembro de 2009 com a promessa que daí a um ano estavam numa escola nova. Nada foi feito: havia projecto mas não havia terreno que chegasse nem havia dinheiro. Quando chegámos essa foi uma prioridade e a escola está a ser construída e em 2017 estará pronta para ser usada.
Mas o ensino é uma prioridade de mais do que os edifícios, que são essenciais para que este ocorra em condições. Ainda neste âmbito foram criadas mais salas de jardim de infância e de ensino para crianças com necessidades educativas especiais e/ou deficientes. A Câmara apostou no apoio aos projectos das escolas, à criação de novos projectos, como sejam o ensino da música nos jardins de infância e às crianças com deficiência que é feito pelo Conservatório d’Artes de Loures, sedeado no Catujal.
Este ano foi ainda distribuído um kit de material escolar a todos os alunos do 1º ciclo, permitindo que todos estejam em igualdade de circunstâncias e de meios de aprendizagem a este nível. Na nossa freguesia assume uma particular importância todos terem cadernos, lápis, borracha, afia, canetas, material para pintar como deve calcular.


JC - Mudando um pouco a temática, passando para o desporto, a Fernanda gosta de desporto. É uma, não sei se posso dizer assim, apaixonada pela ginástica! Ainda faz ginástica?
Fernanda Santos - É de facto uma das minhas modalidades preferidas, que pratiquei em criança e que voltei a praticar há algum tempo. Mas também pratico natação.

JC - Acompanha o ACROMIX certo? O ACROMIX CAMARATE CLUB foi fundado a 2 de Julho de 2007. Os atletas do ACROMIX têm participado em várias provas e eventos por todo o país com um grande sucesso. Qual a importância do ACROMIX para os jovens e ali treinam?
Fernanda Santos - Desde logo a prática desportiva com todas as vantagens que são reconhecidas. Depois o trabalho em grupo, a responsabilidade e, sobretudo, a camaradagem e convívio, o espírito de entreajuda, o saber estar em público sabendo que estamos a ser vistos, avaliados… Parece uma coisa menos importante, mas dá uma ferramenta que pode ser importante para toda a vida.

JC - O ACROMIX tem algum tipo de protocolo/associação às escolas de Camarate, a fim de divulgar e incentivar os alunos à prática da ginástica?


Fernanda Santos - Tanto quanto sei não. O que é pena, para ambas as parte.

JC - Antigamente a ginástica em Camarate era modalidade do Grupo Desportivo Águias de Camarate e com bastante sucesso diga-se! Sabe, eventualmente, o que terá levado à extinção da modalidade no clube? Foi esse o motivo para a criação do ACROMIX?
Fernanda Santos - Essa pergunta terá de ser feita às direcções da altura de ambos os clubes.

JC - Não acha que, se houvesse uma colaboração entre o ACROMIX  e o GD Águias de Camarate, duma maneira em que todos ganhassem, o nome de Camarate chegaria mais longe e daria cada vez mais visibilidade e notoriedade à nossa Vila?
Fernanda Santos - Mais uma vez essa pergunta terá de ser feita às direcções de ambos os clubes. Contudo, a colaboração, aproveitando recursos que ambas as partes tenham, seja no caso dos clubes, seja nas autarquias, ou noutros, tem geralmente vantagens para todos. Neste caso, a nossa vila está bem representada por ambos os clubes, cada um nas suas modalidades.
 

JC - Nos EUA o desporto é fundamental para os alunos serem bem sucedidos, há quase que uma obsessão pela pratica do desporto, conta para as notas, ser bem sucedido no desporto escolar é uma ambição para os alunos e conta para o sucesso ou insucesso escolar. Não acha que, em Portugal, de uma maneira geral damos muito pouca importância ao desporto? Não há grandes estímulos para as crianças fazerem desporto. Numa altura em que a obesidade começa a ser, cada vez mais, um problema de saúde pública, não seria bom se, a nível nacional, se olhasse para o desporto escolar com outros olhos e se implementasse um programa mais rigoroso em que o desporto fosse mais crucial para as nossas crianças?

Fernanda Santos - O desporto, a par da arte, é crucial para o desenvolvimento do ser humano a nível global. Infelizmente, os sucessivos governos não deram a devida importância a esta matéria. São os clubes que têm a responsabilidade da prática desportiva dos seus associados e não só, incentivando, apoiando e mantendo as diversas modalidades. Parece que só há interesse quando chegamos à alta competição, o que é obviamente um erro: para se ser um atleta de elite ou mesmo apenas alguém que pratica desporto é necessário que haja uma formação de base, professores ou treinadores formados, boas condições…

JC - Como vê o trabalho que tem sido feito no Grupo Desportivo Águias de Camarate, como o único clube de futebol, de há uns anos atrás (quase extinto) até aos dias de hoje (Com o projecto que envolve imensas crianças que é o AC FOOT e que abraçou agora um novo projecto de reactivar a equipe de futebol sénior)?
Fernanda Santos - Julgo que existe um esforço sério por parte do GDAC em manter este clube, que faz parte da história da nossa vila e de muitos camaratenses, a funcionar e ao serviço da população. O facto de apostarem nas camadas de formação, para além de muitos outros factores, faz com que muitos miúdos pratiquem desporto, tenham uma ocupação que lhes vai dar muitas ferramentas para a vida: autodisciplina, organização, capacidade de decisão, etc... E isso é de louvar, no GDAC e noutros clubes.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Grande entrevista ao Presidente do GD Águias de Camarate Sr. Frederico Dias

O entrevistado de hoje é o Presidente do Grupo Desportivo Águias de Camarate o Sr. Frederico Dias. 

Jornal de Camarate: Olá Frederico, agradeço o teu tempo e disponibilidade para conversares um pouco com o Jornal de Camarate.

Frederico Dias: O prazer é meu e quero desde já gratificar o Jornal de Camarate pelo apoio dado ao Grupo Desportivo Águias de Camarate.

JC: Primeiro de tudo, vamos lá a saber, como “entrou” o Camarate na tua vida?

Frederico Dias: Posso concluir que o Águias de Camarate se enraizou totalmente em mim quando tinha cerca de 8\9 anos de idade. Comecei a acompanhar o meu pai nos jogos da equipa sénior quer fosse em casa ou fora, recordo-me bem da pressa que era ter de almoçar só para chegar antes do inicio do jogo.

JC: Porquê este amor, esta dedicação ao clube que faz com que um rapaz novo, talvez dos presidentes de clubes mais novos que me recorde, agarrar-se a um projecto tão complicado como vinha a ser - e ainda é porque nem tudo está resolvido - o Águias de Camarate?

Frederico Dias: Com um amor à camisola como o meu, e com uma vontade de quem não consegue baixar os braços, juntei-me ao Camarate para ajudar nos treinos dos escolinhas. Comecei naturalmente a envolver-me mais e mais nos assuntos do Clube e da própria comunidade de Camarate. Realidades como crianças que não tinham qualquer apoio em casa procuravam no clube respostas. Eu e todos os outros profissionais sentimos a responsabilidade social de ajudar no que pudéssemos, fosse equipamentos, comida ou apenas alguém com que partilhassem os problemas escolares. 


Com o passar dos anos o grupo confiou em mim para liderar iniciativas como a Camarate Cup ou mesmo a reestruturação do próprio clube. Não tem sido fácil, mas somos um Grupo unido, com uma identidade muito própria, que se recusa a baixar os braços face às adversidades que vão aparecendo. Actualmente deparamos-nos com o problema de desgaste do nosso principal e único sintético. Com 17 anos, e sendo o único campo de treinos e jogos que o GDAC possui, apresenta níveis alarmantes de desgaste, pelo que estamos numa jornada de angariação de apoios para a substituição do mesmo. Concorremos ao concurso lançado pela Federação Portuguesa de Futebol que visava reabilitar estruturas ligadas ao futebol mas, até hoje e apesar dos nosso contactos, nada nos foi dito.

JC: Quando assumiste a presidência foi difícil encontrares pessoas de confiança que, com dedicação e com empenho, te acompanhassem nesta jornada que se antevia quase uma missão impossível?

Frederico Dias: Sim foi algo complicado em arranjar pessoas realmente interessadas em fazer mais e melhor. Tendo em conta a conjuntura actual, é difícil para o cidadão normal dedicar-se aos projectos de coração com o máximo de empenho sem esperar nada em troca. O associativismo está mais pobre, não falo apenas nos problemas monetários, que são evidentes, falo também das pessoas que apenas querem um nome num papel sem que para isso façam algo.



JC: Pelo caminho foste apanhando muitos contratempos, muitas “pedras no sapato”, quais foram as mais dificuldades que encontraste no Camarate até hoje? As finanças do clube? As condições físicas em que se encontram as instalações e o material? Ou, as pessoas!?

Frederico Dias: As maiores dificuldades foram essencialmente financeiras. Quando tomei posse o clube encontrava-se com algumas dividas, que foram sendo saldadas, hoje estamos a lutar diariamente para que não falte nada aos nosso atletas. Desde balneários ao posto médico os membros desta direcção têm feito todos os esforços para reconquistar o terreno perdido nos últimos anos.

É de frisar que somos um grupo jovem da terra e que não temos medo de meter as mão à obra.

Quanto às pessoas, foi uma inconstante, muitos eram os que apareciam e pouco eram os que ficavam.

Dificuldades, mais uma vez, para nós é um hábito. Elas aparecem e nós arranjamos uma solução.

JC: Muitos melhoramentos têm sido feitos a olhos vistos, há trabalho – não só de escritório mas também a nível terreno - aos poucos e com as condicionantes existentes tem-se visto que têm sido feitos os melhoramentos possíveis mas, o que é que ainda falta?

Frederico Dias
: Como referi anteriormente, o sintético é o nosso maior problema. Este já não reúne as condições para uma prática boa segura do futebol. Andamos a tentar por todas a vias a renovação do campo seja por via de patrocínios, apoios ou concursos. Fora este problema bastante grave, vamos aos poucos reabilitando a infraestruturas ligadas directamente ou indirectamente ao futebol. Reabilitámos os balneários, vedações e parte da sede. Para além disso reunimos uma equipa de massagistas desportivos que acompanham os atletas diariamente de forma a obterem o maior e melhor rendimento.

As missões só são impossíveis até serem superadas.

JC: A questão do relvado sintético foi um grave problema, até haver concordância, entre quem de direito, nem tudo foi um mar-de-rosas… O que se passou afinal relativamente a este assunto?

Frederico Dias
: Para além do desgaste também as dimensões foram um problema, devido ao muro do nosso campo não se encontrar a uma distância de segurança exigido nos regulamentos. Estivemos durante meses a resolver esse impedimento que agora esperamos que esteja resolvido.

JC: O Águias de Camarate tem apostado fortemente na formação, o projecto Escola de Futebol AC FOOT tem sido um sucesso! Quantas crianças estiveram no AC FOOT a treinar na época 2015/16?

Frederico Dias: Cerca de 140 atletas

JC: Para além dessas crianças o Águias de Camarate ainda teve as equipas de iniciados, juvenis e juniores. Tudo a treinar num só campo. Como é possível conciliar todas as equipas e haver treinar em quantidade e qualidade para todos?

Frederico Dias: É um trabalho que não é fácil mas, felizmente, temos conseguido gerir esses aspectos, de muita quantidade e cada vez mais qualidade! Isso devido às qualidades dos treinadores que conseguem superar as dificuldades com bastante rigor e organização.

JC: Achas que se houvesse uma maior aposta no melhoramento das condições do/s campo/s (porque atrás do bar há terreno suficiente para ser aproveitado e já lá existiu um campo que ajudava e muito), o Águias de Camarate/AC FOOT poderiam oferecer mais e melhores condições, a fim de cativar mais crianças para o clube, tirando as mesmas da rua ou da frente do computador, convivendo com outras crianças, fazendo desporto e evitando possíveis desvios para maus caminhos e toda a gente sairia a ganhar?

Frederico Dias: Sim esse é o nosso principal objectivo. Melhorar as condições que temos para que possamos ter cada vez mais atletas nas nossas equipas. Felizmente o Camarate já deixou de ser a última opção para jogar, mesmo com as condições que temos!
Melhorar as nossas condições irá possibilitar um maior investimento social, tirar as crianças da rua e ajudá-los para o resto das suas vidas. Formar atletas e cidadãos conscientes é um dos nossos grandes objectivos.

JC: Como está, a nível de instalações e melhoramentos, a sede do clube? Neste momento qual é o funcionamento e utilidade da mesma?



Frederico Dias: Actualmente a sede do clube serve para a modalidade de kickboxing no nosso pavilhão. Contamos que num futuro próximo a sede seja um lugar mais acolhedor para receber os nosso associados e simpatizantes, patrocinadores e ter reuniões. A sala de troféus também é um pequeno - grande - passo para que a história do clube esteja exposta a todos. O bar da nossa sede também irá ser reabilitado, local onde os nossos sócios possam frequentar e passar os seus tempos livres.

JC: E as modalidades? Como está a “saúde” do kickboxing?

Frederico Dias: Além do futebol só temos a nossa modalidade de kickboxing, que se encontra bastante bem de saúde, onde se fazem bastantes campeões a nível nacional onde, cada vez mais, atletas de outros ginásios procuram o nosso clube para treinarem.

JC: A ginástica foi uma bandeira do Camarate durante muitos anos. Terminou há já algum tempo, consegues explicar-nos o motivo, se for do teu conhecimento?

Frederico Dias: Não sei exactamente o que se passou com a ginástica.

JC: Temos o Águias de Camarate/AC FOOT, não poderíamos ter o Águias de Camarate/ACROMIX por exemplo?

Frederico Dias: Sim, poderia haver, mas isso engloba outra estruturação que o clube ainda não tem, mas também temos no nosso projecto “Camarate para todos”, voltar a ter mais modalidades a funcionar no nosso pavilhão além do kickboxing.

JC: Voltando ao futebol, particularmente ao futebol sénior, o Águias de Camarate está de volta aos campeonatos federados!! Em primeiro lugar quero felicitar toda a direcção do clube por terem conseguido recomeçar os seniores do clube já para esta época! Muitos parabéns e obrigado! Foi difícil este regresso? Que obstáculos encontraram pelo caminho e como conseguiram as soluções para chegarem a um entendimento de que realmente era possível começar com uma equipa sénior do Águias de Camarate já esta época!?

Frederico Dias: Obrigado, foi um dos nossos projectos. Voltar com a equipa sénior, foi difícil mas, como digo, não impossível.

Esta foi a altura que eu e a restante direcção achámos ser a ideal para relançar o escalão máximo. Os valores anuais gastos com a equipa sénior não eram exequíveis com as dividas existentes e, quero desde já agradecer a todos os que participaram nas captações, felicitando quem foi escolhido, e desejando a maior das forças nas provas futuras.

JC: Queres falar-nos um pouco deste projecto? As metas a curto/médio e longo prazo?

Frederico Dias: Um projecto sólido que tem pernas para andar, claro que queremos sempre o melhor, vai ser um ano de arranque em que vamos fazer o melhor possível. Metas a médio prazo é ter uma equipa competitiva com o objectivo de, ano após ano, subirmos de divisão.

JC: A equipa técnica, que já fizemos questão de apresentar aqui, é constituída por pessoas fortes, conhecedoras e empenhadas. Foi difícil arranjar esta estrutura?

Frederico Dias: Sim foi difícil, não é fácil encontrar pessoas competentes e pessoas alem de competentes com gosto pelo clube e do que fazem, pessoas da terra e conhecedoras do clube e pessoas com bastante competência para servirem o clube da melhor maneira.

JC: Quantos sócios pagantes tem o Águias de Camarate?

Frederico Dias: Cerca de 80 pagantes.

JC: Que benefícios um sócio pode ter relativamente a acordos/parcerias que o clube fez com empresas da Vila?

Frederico Dias: Actualmente estamos a reestruturar de raiz o departamento de comunicação de forma a ter mais e mais vantagens mas, por agora, temos parcerias com o Novo Oculista de Camarate e com o jardim infância Nossa Senhora dos Anjos isto em Camarate, fora da vila temos com a clínica Lambert e a Decathlon.

JC: Qual é a mensalidade da cota de sócio?

Frederico Dias: Sócios menores e senhoras 1 euro por mês. Sócios efectivos 2 euros por mês.

JC: Queres acrescentar algo que não tenha sido falado?

Frederico Dias: Quero agradecer ao Jornal de Camarate pela oportunidade desta entrevista,e toda a informação que tem dado sobre a vida do clube. E queria aproveitar para dizer a todos os sócios, simpatizantes e população que o clube não está morto, está vivo, está-se a erguer e precisa do apoio de todos!

Um agradecimentos a todos que, dia a dia, trabalham em prol do clube e deixam de estar com as suas famílias para estar a trabalhar para o clube e também para os patrocinadores que nos tem ajudado, o apoio de todos e muito importante!

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Grande entrevista ao atleta paralímpico Norberto Mourão "filho de Camarate"

Apresentamos hoje mais uma entrevista com o “nosso” atleta Norberto Mourão – bi-amputado dos membros inferiores – mais um “filho da terra”! 

 
Jornal de Camarate - Olá Norberto, antes de mais deixa-me agradecer-te por teres aceitado dar esta entrevista. Não é a tua primeira entrevista, o que torna este desafio mais complicado mas vamos a isto. Antes de falarmos no teu dia-a-dia de hoje, vamos puxar as memórias atrás: “vou voltar a fazer tudo o que eu fazia antes!” É uma frase tua, após o teu infortúnio, o que fazias antes?

Norberto Mourão – Olá. Em primeiro lugar quero-vos agradecer o convite para esta entrevista, a meu ver é muito importante dar a conhecer as gentes de Camarate. É verdade, essa foi é uma frase minha, dita após o acidente e sempre serviu como motivação para alcançar todos os meus objectivos desde essa altura. Antes do acidente andava (como digo muitas vezes na brincadeira) perdido no meio da farinha :P era Pasteleiro à 9 anos, desde os meus 19 anos até ao dia do acidente.

JC - Quais eram os teus passatempos? Já fazias desporto?

Norberto Mourão – Sempre fui um rapaz que gostou de estar com os amigos a brincar na rua, Camarate dá essa possibilidade a todos os seus jovens, crescer de forma saudável a brincar na rua. Nas ruas uma das coisas que mais fazemos é correr e jogar à bola, por isso o desporto acabou por fazer sempre parte da minha vida.

JC - Profissionalmente eras pasteleiro, o que te levou à pastelaria? Continuas a sê-lo?

Norberto Mourão – É verdade, fui pasteleiro durante 9 anos, até ao meu acidente. O meu irmão também é pasteleiro e quando eu tinha 19 anos ele precisou de alguém para o ajudar, eu naquela altura estava a acabar o 12º ano, mas lá fui ajuda-lo e acabei por ficar lá a trabalhar durante cerca de 2 anos, durante esse tempo ele ensinou-me tudo o que ele sabia. Antes de ir trabalhar com ele, eu nunca gostei de fazer bolos, muitas vezes ele pedia-me para o ajudar a fazer bolos em casa e eu não o ajudava, preferia não os comer, no entanto a vida é mesmo assim, surpreende-nos, fazer bolos acabou por ser a minha profissão. Dediquei-me a 100% à profissão e ganhei o gosto pelo que fazia. Em tudo na vida, temos de fazer as coisas com gosto, isso torna tudo mais simples e deixa de ser algo que não gostamos de fazer. A partir do acidente deixei de trabalhar em pastelaria, fiquei reformado à profissão.

JC - Norberto, 29 de Setembro de 2009 é um dia que para sempre ficará marcado na tua memória. Um gravíssimo acidente de mota colocou-te na condição em que hoje te encontras. Bi-amputado. Não era a primeira vez que andavas de mota mas, como dizes, a experiência também ainda não era muita! O que se passou?

Norberto Mourão – Esse dia é um dia muito importante na minha vida. Lembro-me de no dia do acidente, ao sair de casa dizer para mim próprio, "só falta um mês para fazer anos", lá peguei na mota e fui trabalhar como fazia todos os dias, nessa altura o meu ajudante estava de férias, por isso passava mais tempo a trabalhar, quando saí do trabalho vim para casa e já muito perto de casa acabei por ter o acidente. Estava a subir a rampa do Bairro das Sousas e abrandei na zona que tem um café para evitar problemas, não fosse aparecer alguém de repente, assim que passei o café acelerei e a mota fugiu na passadeira, voltou a agarrar e sacudiu a traseira, eu fiquei agarrado à mota, sentado em cima do depósito e com o volante a tremer, acabei por embater no passeio e nos pinos que estão no lado esquerdo da estrada, ao bater no passeio o volante virou para a direita e cortou-me a perna direita, a esquerda arrancou um dos pinos que estavas no passeio, fiquei logo sem as duas pernas. A rápida assistência foi fundamental para sobreviver.

JC - Sempre que falas dizes muito bem do Bombeiros Voluntários de Camarate e da assistência prestada por eles, coisa que muita gente se esquece, mais tarde pelo INEM e até no hospital. Sendo que, toda a assistência foi importante, achas que a primeira fase prestada pelos nossos bombeiros foi fundamental para que todo o processo de auxílio à tua pessoa fosse mais fácil e, com isso, não agravasse ainda mais as lesões que já tinhas?

Norberto Mourão – Sem a rápida assistência que tive não tinha sobrevivido. Pelo que me contaram, o carro que vinha atrás de mim era conduzido por uma enfermeira que me assistiu de imediato e chamou os Bombeiros Voluntários de Camarate, eles foram fundamentais para eu resistir aos ferimentos, o que fizeram por mim não tem pagamento, recordo-me perfeitamente desse dia e sei exactamente o que fizeram para me acalmar e para estancar o sangue. O Ricardo Morais ficou a segurar na minha cabeça e foi ele que tirou o capacete, a Liliana Alves foi quem me deu oxigénio, ficou a falar comigo e a acalmar-me, o Rodrigo (espero não estar a enganar-me no nome dele) foi o que ficou com a difícil tarefa de procurar a artéria e estancar o sangue (prefiro não descrever o que ele teve de fazer para a encontrar, porque certamente muitas pessoas ficariam chocadas ao ler a descrição). Esses são os bombeiros que sei que mexeram em mim, mas sei que estavam lá mais 6 se não estou em erro, possivelmente mais 9, para o local foram uma ambulância e um camião dos bombeiros com lugar para 6 pessoas. O INEM depois fez o seu trabalho quando chegou ao local, deu-me morfina e acabei por adormecer. No chão ficou uma mancha de 2,70m de sangue, a perda de sangue foi muito grande, precisei de 6 litros de soro até chegar ao hospital. Já no hospital fui operado com sucesso durante 6 horas.

JC - Após o sinistro estiveste internado quase dois meses, se não estou enganado, sempre mantiveste o pensamento positivo! Querias voltar a andar, ias voltar a andar! Achas que foi importante para a tua recuperação teres esta maneira de pensar forte e decidida?

Norberto Mourão – As previsões era péssimas, o médico que me operou disse que era mais fácil ganhar o Euromilhões do que eu sobreviver e que se sobrevivesse iria ficar cerca de dois meses nos cuidados intensivos, o que é certo é que eu quebrei todas as previsões. Ao fim de dois dias nos cuidados intensivos já andava a pedir à minha mãe para me levar uns alteres, porque não podia perder a força nos braços, chamaram-me logo de maluco e não deixaram lol. Acabei por sair dos cuidados intensivos ao fim de 5 dias, porque não precisaram da cama antes, senão tinha ficado só 3. Desde que acordei no hospital o meu foco foi sempre o mesmo, voltas a andar e a fazer tudo o que fazia antes, estive sempre bem disposto e humorado, sempre dei força a todos, para que se eu um dia ficasse mal, sabia que todos os outros estavam fortes e me iriam ajudar. Lembro-me da psicóloga do hospital me dizer que eu devia fazer o luto das pernas e deixar-me chorar, numa noite pensei nisso e até tentei chorar, mas não consegui porque nunca me fui abaixo :) No dia 29 de Outubro (era o meu dia de anos) os médicos deixaram-me vir a casa, foram os Bombeiros Voluntários de Camarate que me foram lá buscar. Ao chegar à porta de casa disse uma coisa para todos, "demorei um mês, mas cheguei a casa :)". Voltei para o hospital no dia a seguir e tive alta no dia 5 de Novembro, exactamente um mês e uma semana depois do acidente. Podia até ter tido alta 15 dias antes, só não tive porque precisaram de arranjar uma vaga para começar a fisioterapia. Comecei a fisioterapia depois no dia 11 de Novembro no Hospital dos Capuchos e mais uma vez a surpreender tudo e todos com a minha evolução. A recuperação em casos como o teu pode ser muito lenta mas, com a tua maneira de encarar a vida, no teu caso foi mais acelerada do que é costume. 


JC - Como descobriste a para-canoagem e, já agora, porquê?

Norberto Mourão – Nestes casos a grande maioria das pessoas acabam por passar por diferentes fases, desde pensar que o mundo acabou ali, a seguir começarem a aceitar a nova realidade e só numa terceira fase começarem a olhar em frente e a lutarem para ter uma vida normal. Eu comecei logo na terceira fase, nunca me fui abaixo nem precisei de começar a pensar na nova realidade, segui logo em frente e a fazer tudo o que precisava para evoluir o mais rapidamente possível. A paracanoagem acaba por surgir na busca por um desporto que me permiti-se fortalecer os braços, pois sabia que dependia muito da força de braços para a adaptação às próteses. Tinha dois desportos em vista, Canoagem ou Remo, tive então a possibilidade de experimentar em Setembro de 2010 e comecei a praticar com regularidade em Janeiro de 2011, logo depois de comprar carro e me poder deslocar sozinho. Desde aí nunca mais parei de treinar e os resultados foram aparecendo com naturalidade.

JC - Com isto tornaste-te atleta do Clube Atlético do Montijo praticando a modalidade de para-canoagem. Como foi este início de atleta federado? Que apoios tinhas na altura e quais foram as tuas maiores dificuldades?

Norberto Mourão – A experiência que tinha tido em Setembro de 2010 tinha sido com o treinador do Clube Atlético do Montijo, por isso foi lá que comecei a treinar em Janeiro de 2011. Comecei num barco de mar, mais estável e excelente para a iniciação, federaram-me e logo em Fevereiro desse ano fiz a minha primeira prova, um Regional de Fundo na Amora (Seixal), nessa prova o objectivo era acabar a prova e eu consegui. Logo no início o apoio que tive foi o do clube, que me emprestou o barco e me ajudava a entrar e a sair dele. Em Junho de 2011 uma empresa portuguesa (Elio Kayaks) deu-me um apoio fundamental para minha evolução, um barco de pista novo, que me permitia competir em todas as provas de Pista e de Fundo, foi nesse barco que ganhei as provas a nível Nacional e também fui com ele ao Mundial em 2012. As minhas maiores dificuldades no início prendiam-se com um problema vascular no braço esquerdo, esse problema teve origem no acidente, ao partir a clavícula houve um encurtamento daquela zona e em certas posições a veia que passa por baixo do braço é ligeiramente estrangulada, o braço fica roxo e perco força. Com a canoagem esse problema praticamente desapareceu e actualmente acontece muito raramente.

JC - Para superar as dificuldades que tinhas, a nível de adaptação, foi feita uma parceria entre o Clube Atlético do Montijo e a ESTeSL, como e porquê surgiu esta parceria?

Norberto Mourão – Na canoagem para conseguirmos evoluir é preciso que tudo esteja bem adaptado. Eu já tinha um excelente treinador, um excelente barco para fase em que estava, no entanto para evoluir precisava de uma adaptação, o barco precisa de funcionar como se fosse uma extensão do nosso corpo. Uma das atletas do Clube Atlético do Montijo estava a estudar na ESTeSL, foi ter com os professores de Ortoprotesia e falou sobre o meu caso, posteriormente também fui lá e fez-se então uma parceria entre a ESTeSL e o Clube Atlético do Montijo. Fizeram então um estudo comigo, tiraram medidas, tanto a mim como ao barco, fizeram-se moldes a chegou-se a um producto final, que é a adaptação que ainda hoje utilizo.

JC - E, efectivamente, que resultados te trouxe a adaptação que “nasceu” desta parceria?

Norberto Mourão – Esta adaptação é fundamental, sem ela seria impossível chegar onde já cheguei, para terem uma ideia da importância dela, em 200m (é a distância da minha principal prova a nível Nacional e Internacional) reduzi o meu tempo em 43 segundos, quase metade do tempo que fiz na minha primeira prova, reduzi de 1:30 para 47.4. Esta adaptação em conjunto com o barco e o treino que fiz, permitiram-me ganhar tudo a nível Nacional e chegar ao 5º lugar num Europeu em 2013.

JC - Hoje em dia continuas com esta parceria?

Norberto Mourão – Sim, a parceria foi feita com o principal objectivo de ir aos Jogos Paralímpicos, neste ano não consegui, mas o foco agora é Tokio 2020. Para além de mim, também existem outros atletas do Clube Atlético do Montijo que continuam a usufruir dela para também eles poderem progredir.



JC - Saíste do CA Montijo para o Sporting CP. Como surgiu esta mudança?

Norberto Mourão – Acabou por ser uma mudança fácil. O Sporting C.P tem um projecto ímpar a nível mundial, através do seu gabinete de desporto adaptado. Esse gabinete abriu em 2014. Fez-se uma abordagem de parte a parte, entre nós do CA Montijo e o dirigente dessa área do Sporting CP para que a Paracanoagem fosse uma das modalidades a integrar este enorme projecto, chegou-se a um acordo e passei a representar o Sporting CP, juntamente com outro atleta do Clube Atlético do Montijo e o nosso treinador de Sempre passou a ser o treinador de Paracanoagem do Sporting. Nesse acordo também ficou estabelecido que continuaríamos a treinar no CA Montijo e iríamos às provas juntos.



JC - És um verdadeiro vencedor! Tanto nas batalhas da vida como nas batalhas dentro d’água! Vencer é o teu foco! Este ano já ganhaste o Campeonato Nacional de Velocidade, a Taça de Portugal de Regatas em linha e o Campeonato Regional de Fundo. O que sentes sempre que ganhas uma prova?

Norberto Mourão – Quando entrei na Paracanoagem, sempre quis competir, porque a competição acaba por ser o que nos dá vontade de evoluir e de nos superar-mos, sem o factor competição, começam sempre a haver dias em que a preguiça fala mais alto e não vamos treinar, como entrei logo na competição isso nunca me aconteceu, sempre me senti motivado e dei sempre tudo nos treinos. Felizmente a nível Nacional as coisas têm corrido muito bem, tenho conseguido ganhar as provas em que participo e isso deixa-me satisfeito, só demonstra que todo o trabalho e o que sofri nos treinos deu resultado.



JC - O que te falta ganhar em Portugal?

Norberto Mourão – Em Portugal já ganhei tudo o que havia para ganhar, no entanto encaro todas as provas como se fosse a primeira vez que a posso ganhar, dou sempre tudo o que tenho.

JC - Internacionalmente não tem corrido tão bem como em Portugal. Este ano, por pouco, falhaste os mínimos para o jogos paralímpicos Rio 2016. O que faltou? O que falhou?

Norberto Mourão – É verdade, nas provas internacionais as coisas não têm corrido como o desejado, mas temos de estar conscientes de alguns factores relacionados com as limitações dos atletas que competem contra mim. As avaliações continuam muito injustas, eu sou o atleta com maiores limitações na minha classe, estou a competir contra atletas com cotos maiores, outros com uma perna inteira e ainda atletas com duas pernas, teoricamente isso não deveria acontecer, mas acontece muito e dá-lhes enormes vantagens, quer na impulsão do barca, como na gestão do esforço. Esse facto nunca me fez desistir, treinei muito, dei tudo o que tinha e estive muito perto da vaga para o Rio 2016. Faltou um pouco de sorte na semifinal que me calhou no Mundial, calhei contra todos os adversários directos na minha semifinal, se fosse na outra tinha conseguido a vaga. No global fiquei em 12º e precisava de ficar em 9º

JC - Quais são os teus objectivos para o futuro?

Norberto Mourão – Os meus projectos para o futuro passam por acabar o 12º ano, falta muito pouco (2 disciplinas) e já comecei a estudar à noite para terminar os estudos. A nível desportivo o objectivo passa por tentar ir aos Jogos Paralímpicos em Tokio 2020, já terei 39 anos nessa altura, mas se reajustarem as avaliações das classes na paracanoagem, penso que terei bastantes hipóteses de ir. 


JC - Que história/s ou curiosidade/s mais recordas destes campeonatos nacionais e internacionais onde tens competido?

Norberto Mourão – Todas as provas, desde os regionais às provas internacionais, são cheias de emoção e experiências. Em Portugal é sempre bom rever e falar com todos os atletas que vamos conhecendo de prova para prova, vamos falando muito e divertimo-nos bastante, é um desporto muito saudável em todos os aspectos, só quando o sistema de partida baixa é que somos adversários, mas até lá e depois da prova acabar, ajudamos-nos todos e damos dicas uns aos outros para que todos consigam evoluir mais. A nível internacional, são experiências bem diferentes e onde nem todos os países têm as condições desejadas em termos de alojamento, para terem uma ideia, no Mundial do ano passado na Alemanha, que foi também prova de qualificação para o Rio 2016, em 5 dias fui obrigado a passar por 4 hotéis, por falta de condições de acessibilidade e da péssima organização deles nesse sentido, foi a minha pior experiência de sempre nesse sentido. Esquecendo esses aspectos negativos, já conheci sítios muito bonitos, que nunca iria conhecer e o ambiente entre atletas também é excelente.

JC - Além da para-canoagem como é o teu dia-a-dia? Quais são os teus hobbies?

Norberto Mourão – O meu dia passa por treinar, neste momento também iniciei a escola no ensino nocturno para acabar o 12º ano, também passo algum tempo a jogar jogos de computador e gosto de sair com amigos, de preferência algo relacionado com desporto, como foi no caso do fim de semana passado, em que fui apanhar uma ondas na praia de Carcavelos em mais um excelente evento organizado por um Camaratense de enorme valor, o Nuno Vitorino.



JC - Falando um pouco de Camarate, como vês a Vila hoje em dia? Tens dificuldade em aceder a determinados locais e serviços de Camarate? Na tua opinião o que podia ser melhorado para pessoas com dificuldades de mobilidade?

Norberto Mourão – A Vila está um pouco como o país, muito há para fazer, mas já muito se vai fazendo. Se precisar de ir à Junta de Freguesia, ou vou com as próteses (felizmente tenho essa possibilidade), ou então fico à porta, uma vez que é no 1º andar. As ruas também têm um piso muito mau, nomeadamente no Bairro São Benedito (onde moro) e no Bairro Mira Loures, andar na rua de cadeira de rodas ou mesmo com as próteses é uma aventura nestes dois bairros. Também há muita coisa boa, como são os casos das boas acessibilidades em alguns serviços, como é o caso dos correios, tanto o do centro da vila como o dos Fetais, o posto médico e as escolas, entre outras. Camarate tem projectos muito atractivos para a Vila, como é o caso do jardim que já está em construção por cima do Túnel do Grilo, ou do projecto que foi apresentado há dias para a reabilitação do centro da Vila, também irão tornar a Vila mais agradável para todos e as crianças poderão brincar e crescer com alegria usufruindo desses espaços que serão criados.

JC - Tens tido algum apoio local?

Norberto Mourão – Se se referem a apoio da Junta de Freguesia, ou mesmo do Estado, não tenho o apoio de ninguém. Ainda assim a Junta de Freguesia já colocou um corredor de alcatrão no meio da minha rua e já posso descer em segurança com a cadeira ou com as próteses.

JC - Quais são as tuas maiores dificuldades neste momento? Financeiras, trabalho, apoios, mobilidade?

Norberto Mourão – Há sempre dificuldades todos os dias, para sair de casa tenho logo uma rampa muito inclinada e perigosa. Neste momento o meu carro já fica à porta de casa, mas foi uma luta de 6 anos com a Câmara de Loures e com a Junta de Freguesia para me arranjarem um lugar de estacionamento, sendo um Bairro ilegal torna tudo mais difícil, mas penso que um pouco de boa vontade e de bom senso não faz mal a ninguém, facilmente se podem desbloquear certas situações e muitas vezes não o fazem. A nível financeiro recebo a pensão do seguro, uma vez que o meu acidente foi no percurso para casa, ainda foi dentro da hora em que é considerado acidente de trabalho. É uma pensão pequenina, mas pelo menos é certa. Nunca mais voltei a trabalhar desde que tive o acidente, a minha prioridade foi sempre o desporto e o objectivo de ir aos Jogos Paralímpicos. Neste momento estou a acabar a escola para a seguir procurar um trabalho. Apoio tive um a nível pessoal, o de uma empresa aqui de Camarate, da Judite Maria - Operações de Gestão de Resíduos, Lda. foi um apoio muito importante nesta época que acabou. Ao nível do Sporting acabo por ter apoio ao nível das parcerias que fazem, para podermos treinar com as melhores condições. Em termos de mobilidade é como vos disse, andar na rua aqui no meu Bairro é uma aventura, quer seja de cadeira, ou de próteses, tirando isso, o meu carro leva-me a todo o lado :).

JC - Sabemos que é uma utopia e que o Camarate não tem possibilidade para tal mas, caso a mesma surgisse, vias-te a competir com o símbolo do Águias de Camarate ao peito?

Norberto Mourão – Infelizmente o Águias de Camarate não tem a modalidade e mesmo que a quisesse ter seria complicado, porque não há aqui nenhum rio, o mais perto é em Sacavém e infelizmente não é aproveitado, ainda que lá treinem atletas de renome a nível Nacional, até mesmo o Emanuel Silva (medalha de prata em Londres com o Fernando Pimenta, para além de Campeão do Mundo e vencedor e inúmeras medalhas) já fez alguns treinos em Sacavém. O acesso à água é feito por uma escada na vertical, o que para mim é impossível, mas se houve-se um pouco de boa vontade política, metiam ali um pontão e poderia-se criar um excelente clube de canoagem. Caso o Águas de Camarate tivesse canoagem, dou-vos a certeza de que seria um enorme orgulho poder integrar a secção de canoagem e ajudar em tudo o que fosse possível. Passei bons anos no Águias de Camarate, nunca como atleta federado, mas treinando com a equipa de Iniciados que subiu de divisão naquela altura.

JC - Como vês o trabalho do Águias de Camarate no que em relação à divulgação do desporto e o acompanhamento às crianças diz respeito?

Norberto Mourão – Tive o prazer de ir ao aniversário do clube no ano passado e aperceber-me do excelente trabalho que está a ser feito ao nível da formação no clube, o projecto da AC FOOT é fantástico e quem está a frente dele é alguém que percebe muito de futebol, para além disso toda a direcção é apaixonada pelo clube e pela vila, o que nos dá a certeza que tudo farão para colocar o clube onde já esteve no passado. Eu acredito neles e no projecto.

E penso que está tudo dito, no entanto há algo que nunca se diz vezes demais, muito obrigado aos Bombeiros Voluntários de Camarate por tudo o que fizeram por mim, quer seja na altura do acidente, como durante todo o tempo que me transportaram para a fisioterapia, é bom ser amigos de muitos deles :) Quero agradecer também a vocês, Jornal de Camarate, pelo convite que me fizeram para esta entrevista, é um enorme orgulho para mim.

Mais uma vez, muito obrigado a todos. 



Grande abraço. 
Norberto Mourão

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