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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A Grande História da Vila de Camarate


Toda a História da nossa Vila de Camarate

O topónimo Camarate parece derivar do facto de, em tempos, aqui se ter cultivado uma casta de videira chamada camarate ou, em alternativa, pelo facto de, na Idade Média, aqui se situar a Camarata Real, onde pernoitavam os nossos reis, quando se dirigiam para o norte do país. Mais provável é que o nome derive, porém, do nome de uma família berbere que aí se destacou sob a ocupação mourisca: os Banu Qamaratti.
Segundo documentos oficiais Camarate terá pertencido a David Negro, um judeu, ao tempo Almoxarife das Alfândegas do reino. Após a morte do rei, David Negro foi obrigado a fixar-se em Toledo, onde morreu. Não é difícil interpretar estes factos. A morte de D Fernando fez o país mergulhar numa profunda crise social e política em que os 'graúdos', aqueles que mais 'tinham de seu', tomaram o partido de dar o trono a D. Beatriz e ao seu marido, o rei de Castela, enquanto que o povo, a 'arraia miúda', pondo acima de tudo a independência nacional, defendeu que fosse rei o bastardo Mestre de Avis.
A Batalha de Aljubarrota resolveu a questão a favor do Mestre de Avis e todos os partidários do rei de Espanha ou morreram naquela batalha ou tiveram que fugir para a vizinha Castela. David Negro terá sido um dos ricos que nunca imaginou que o Mestre viesse a sair-se bem desta questão dado que - e é importante frisá-lo - Portugal tinha, ainda no reinado de D. Fernando, perdido três guerras com Castela. Quem perde três, perde quatro, pensaram todas as pessoas que exerciam cargos de importância no país. Mas enganaram-se e acabaram no exílio. Aliás, é significativo que David Negro tenha escolhido Toledo. Era lá que residia o rei de Leão e Castela, era lá a corte castelhana.
Os numerosos bens de David Negro foram doados pelo novo rei D. João I ao seu precioso aliado D. Nuno Álvares Pereira para o recompensar dos muitos serviços prestados (1422). De todos os bens de David Negro, os de Camarate eram, ao que parecia, os mais valiosos, sendo constituídos pela Quinta do Salter.
E quais eram os serviços prestados por D. Nuno Álvares Pereira ao Novo Rei?
Era tudo!
O Novo Rei devia a coroa ao empenho e esforço de Nun'Álvares - O Condestável.
D. Nuno Álvares demonstrou ser um nobre português ao provar que os castelhanos não eram invencíveis. Aos castelhanos soube dar-lhes batalha nos campos alentejanos e veio animar as gentes de Lisboa que sofriam um cerco horrível, onde se esgravatava o chão das antigas feiras para comer.
Foi Nun'Álvares que, para resolver a discussão sobre qual o futuro do rei de Portugal nas Cortes de Coimbra, quis usar da força das armas - o que o Mestre rejeitou.
E foi finalmente Nun'Álvares Pereira que optou e bem por enfrentar o novo exército castelhano que mais uma vez invadia Portugal, antes que ele chegasse à capital, contrariando os que rodeavam o Mestre de Avis. O resultado já se disse, foi a estrondosa vitória portuguesa de Aljubarrota, que afastou por muito tempo, as veleidades castelhanas ao trono de Portugal.
 Após a morte do rei D. João I, Nun'Álvares Pereira passou a viver na Quinta do Salter e nela construiu uma capela em honra de Nossa Senhora do Socorro. Destes testemunhos históricos apenas existem os restos da capela que actualmente se encontra na Igreja Matriz.
Durante a Idade Média, Camarate foi, e até ao 1.º de Maio de 1511, parte integrante da vizinha freguesia de Sacavém; surge, no entanto, bastantes vezes mencionada nos documentos, sabendo-se que era - a par de Sacavém, Unhos e Frielas - terra reguengueira. Fez parte do dote que Fernando I de Portugal concedeu a sua esposa, Leonor Teles de Menezes.
Por essa altura, durante o governo de Agapito Colona como bispo de Lisboa, foi fundada a primitiva Igreja Matriz, entretanto reconstruída e ampliada.
Por altura da crise de 1383-1385, uma quinta aí situada, pertença do judeu David Negro, almoxarife das alfândegas reais no reinado de D. Fernando, foi confiscada e entregue prontamente a Nuno Álvares Pereira, que aí passou alguns anos com sua mãe, antes de professar no Convento do Carmo. Nessa quinta fundou o Condestável uma capela consagrada a Nossa Senhora do Socorro, a qual viria a doar aos Carmelitas, que aí fundaram um convento, extinto em 1834.
Por via de Nuno Álvares Pereira, Camarate viria a ser integrada, mais tarde ainda, com muitas terras vizinhas, no património da Casa de Bragança.
A freguesia de Camarate foi enfim criada por um foral (uma carta de privilégios concedida pelos antigos monarcas de Portugal) de D. Manuel I, datado de 1 de Maio de 1511, sendo separada administrativamente da freguesia de Sacavém.
A partir do século XVI tornou-se um local muito concorrido pela nobreza lisboeta, sendo afamada pela sua produção vinícola (da casta camarate, que talvez tenha dado o nome à vila), característica das quintas que fizeram parte do quotidiano desta freguesia até meados do século XX.
Foi parte integrante do Termo de Lisboa (até 1852), depois do concelho de Santa Maria dos Olivais (entre 1852 e 1886); posteriormente voltou a transitar para o concelho de Lisboa (entre 1886 e 1895); por fim, em 1895, foi integrada no concelho de Loures, onde permanece até hoje. Em 4 de Junho de 1996 foi elevada a vila por decreto da Assembleia da República.
Desde meados do século XX, com o desenvolvimento industrial acelerado e subsequente terciarização, a freguesia tornou-se essencialmente um dormitório da capital.
Camarate é também conhecida por ser a terra de infância de um dos mais famosos poetas de Portugal do século XX: Mário de Sá-Carneiro, pioneiro do Modernismo na literatura portuguesa e um dos membros da Geração d’Orpheu em conjunto com Fernando Pessoa e Almada Negreiros.
Acima de tudo, Camarate é tristemente célebre pelo acidente que tirou a vida ao então Primeiro-ministro social democrata português, Francisco Sá Carneiro, à sua companheira e ainda ao Ministro da Defesa democrata-cristão Adelino Amaro da Costa, na noite de 4 de Dezembro de 1980, a escassas horas das eleições presidenciais desse mesmo ano, nas quais o candidato do Governo, o general Soares Carneiro, foi derrotado pelo general Ramalho Eanes, que contava com o apoio dos partidos da esquerda. Acidente ou atentado – as duas teses digladiam-se desde há quase vinte e cinco anos... Essa história esteve na origem do filme Camarate.


fonte: compilação de vária 
informação disponível na internet,
e trabalhos elaborados por alunos da  
escola eb23 Mário de Sá Carneiro


2 comentários:

Helder Borges disse...

Os "OLIVAIS", têm fundadas razões para se orgulharem da sua História.
Ligada à INDEPENDÊNCIA de PORTUGAL!
Como Olivalense, residente há mais de 40 anos, ex-Autarca, que foi Presidente da Assembleia de Freguesia, gostaria de deixar aqui um Aviso à "navegação"!
"O POVO É QUEM MAIS ORDENA" e molda a "História" como o fez sob o comando de D. Nuno Alvares Pereira, o Mestre de Aviz.
Os "Olivalenses" (aqueles que Amam os Olivais)têm hoje, tal como no tempo de Nuno Alvares Pereira, fundadas razões de descontentamento pela forma como os "Senhores" da Câmara Municipal de Lisboa têm maltratado os OLIVAIS. Veja-se a "nossa" Piscina que foi deixada degradar e vandalizar, os nossos "jardins" que cada vez têm mais áreas castanhas e menos áreas verdes. Mas, atenção, tal como fomos Concelho, antes, poderemos voltar a sê-lo!...
"O POVO É QUEM MAIS ORDENA"

Inácio disse...

Parabéns pela vossa divulgação da história de Camarate, terra pela qual tenho um especial carinho, pois aí vivi os primeiros três anos da minha vida (1933-1935).
Penso que posso esclarecer alguns pormenores.
Qamrat significa em árabe "duas luas". A tribo berbere de Benu Qamrat era berbere, do sul do Sahara, e por isso eram negros. Os três reguengos Unhos, Frielas e Aldeia dos Negros foram concedidos por D. Afonso Henriques ao judeu Yahia Ben Yaish, em recompensa pela ajuda que este lhe deu na conquista de Santarém e talvez também na conquista de Lisboa. Aldeia dos Negros era a aldeia dos Benu Qamrat. Os descendentes de Yahia ficaram conhecidos por Ibn Yahia, mas mais tarde também lhes chamavam Ibn Yahia Negro, por terem uma quinta na tal aldeia dos negros. David Negro tinha também propriedades em Almada. Quando ele tomou o partido de D. João de Castela, na sucessão de D. Fernando, e fugiu para Castela, todos os seus bens foram confiscados e entregues ao Condestável, que tambem instalou na quinta de Camarate a sua mãe. Nessa altura, a mulher de David Negro recorreu do confisco das propriedades, por si e pelos seus filho, alegando que não eram responsáveis pelos actos do marido e pai. D. João I manteve a propriedade de Camarate ao Condestável, que depois a legou à Ordem dos Carmelitas, e devolveu aos Negros as propriedades de Almada, onde ainda existe o Rio do Judeu. Escrevi sobre isso no meu livro "Raizes dos Judeus em Portugal".