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sábado, 30 de janeiro de 2010

História - Igreja Matriz Paroquial de Santiago Maior de Camarate


Igreja Matriz Paroquial de Santiago Maior de Camarate

A primitiva igreja camaratense foi mandada edificar na década de 1370 pelo bispo de Lisboa D. Agapito Colona (que governou a diocese de 1371 a 1378). A igreja foi-se degradando com o tempo, dando lugar à reconstrução de uma nova por volta de 1511, na mesma altura em que a freguesia civil e eclesiástica de Camarate foi separada da vizinha Sacavém (por foral de D. Manuel I de 1 de Maio desse ano). Contudo, o actual edifício data do início do século XVII, altura em que foi uma vez mais reconstruído.

No reinado de D. João I, D. Nun'Álvares Pereira manda edificar uma capela dedicada à N. Sª do Socorro na Quinta de Salter que, depois doou aos frades carmelitas que, em 1602 fundaram um convento com a mesma invoção de N. Sª do Socorro.O convento e a quinta acabariam por ser vendidos em 1835, um ano após a extinção das ordens religiosas em Portugal. Destes testemunhos históricos apenas existem os restos da capela que actualmente, se encontra na Igreja Matriz, pois o palácio de Salter foi demolido para alargar o aeroporto de Lisboa.

- Localização:
A Igreja Matriz Paroquial de Santiago Maior de Camarate localiza-se na confluência da Praça 1.º de Maio com as Ruas Avelino Salgado de Oliveira e Guilherme Gomes Fernandes, no centro da vila de Camarate, sendo em torno desta edificação que se procedeu ao crescimento urbano da povoação ao longo dos séculos.

- Enquadramento:
Urbano, isolado, implantação harmónica. No centro da povoação e na confluência de várias ruas, num largo espaçoso e empedrado em xadrez, tendo ao meio cruzeiro.

 
- Descrição:
Planta longitudinal, composta, de nave única e capela-mor rectangular, tendo adossada de ambos os lados torres sineiras quadrangulares e construções de apoio. Volumes articulados e coberturas diferenciadas com telhados de 2 e 1 água. Frontespício, flanqueado por torres com parastáticas, terminado em frontão triangular e rasgado por portal de verga recta encimada por frontão triangular e janela estreita. Torre da direita com cúpula bolbosa entre bolas sobre socos; a da esquerda sem remate, com pequena sineira e relógio. Nave com tecto de masseira em caixotões com composições figuradas; revestida a azulejos enxaquetados organizados em 2 níveis, 4 capelas colaterais, de arco pleno e retábulos de talha dourada, intercaladas por tribuna com balaustrada e púlpito no lado do Evangelho; coro-alto de perfil ondulado, 2 altares laterais de talha dourada, arco triunfal pintado com figuras angélicas e festões, envolvido por pinturas emolduradas a talha e tendo ao centro "Calvário". No lado do Evangelho, entre o altar colateral e o lateral, "Pietá". Capela-mor com lambril de azulejos, 2 telas colaterais e abóbada de canhão com trabalhos de estuque. Sobre banqueta de mármores embutidos, retábulo de talha dourada e trono num camarim profundo.
 A fachada apresenta-se sóbria, tendo como elemento central o portal rectangular em mármore, encimado por um frontão triangular; sobre este, uma janela rectangular. À direita, acha-se a torre sineira, encimada por uma cúpula.
Imagem de Santiago Maior, padroeiro da Igreja, situada no altar direito da capela-mor.
No interior seiscentista, destacam-se os azulejos brancos e negros dispostos em padrão geométrico, a pedra do altar em mármore e ainda o tecto recoberto de pinturas dos meados do século XVII representando cenas da vida do apóstolo Santiago Maior. Ao longo da nave encontram-se quatro altares laterais, e ainda dois a rodear a capela-mor, dedicados, respectivamente, a Santiago e a Nossa Senhora de Fátima.
De destacar também o belíssimo trabalho da talha dourada na capela-mor, bem como o tecto de estuque. Nas duas paredes laterais do altar-mor acham-se duas telas recentemente restauradas, pintadas por volta de 1710 por António Machado Sapateiro.

No exterior, no adro da Igreja, acha-se também um magnífico cruzeiro manuelino, o único elemento do conjunto que remonta ao século XVI.

- Época Construção:
Séc. XVII

- Arquitecto/Construtor/Autor:
ENTALHADOR: José Antunes (1696-1697).
ESCULTOR: Domingos Pereira Lobo (1753).
PINTOR: André Gonçalves (1714); António Machado Sapeiro (1710); Jerónimo da Costa (1696-1697); José Sequeira Freire Preto (1696-1697) Manuel Soares (1696-1697).

- Cronologia:
Séc.XIV 14 - Bispo de Lisboa, D. Agapito Colona, (entre 1371 - 1380) lança 1ª pedra numa capela;
1511 - desmembrando-se a freguesia de Sacavém, reconstruiu-se o templo;
séc. XVII - nova reconstrução;
1696-1697 - feitura do retábulo-mor por José Antunes; douramento do retábulo por Jerónimo da Costa, Manuel Soares e José Sequeira Freire Preto, os quais foram o responsáveis pela pintura de brutesco do tecto da capela-mor;
séc. XVIII - alguns elementos decorativos, como talha dos altares da nave, "Pietá" e Evangelistas, estuques do tecto e pinturas do arco triunfal;
1710 - pintura das telas da capela-mor por António Machado Sapeiro;
1712 - pintura das telas da capela-mor (David e os pães da Proposição e Moisés e as Tábuas da Lei) por António Machado Sapeiro (f. 1740);
1714 - pintura das telas do arco triunfal, a representar os Doutores da Igreja por André Gonçalves;
1753 - escultura dos quatro Evangelistas para a banqueta do altar-mor por Domingos Pereira Lobo; pintura de telas para a capela-mor por António Machado Sapeiro;
1761 - sepultura de Jácomo Esteves Nogueira, secretário do Santo Ofício, no chão da capela-mor.

- Tipologia:
Arquitectura religiosa, maneirista e barroca. Edificação seiscentista conservando ainda a sua feição maneirista. Contraste entre a sobriedade exterior e a riqueza decorativa interior. A excelente conjugação de azulejos, talha e telas pintadas faz desta igreja um notável exemplo de arquitectura religiosa no limiar do barroco.

- Características Particulares:
Magnífico revestimento azulejar, onde conjuga 2 composições de enxaquetado com efeitos de multiplicação espacial. Interligado a este está a pintura do tecto em caixotões figurando passos da vida de São Tiago, seguindo assim uma das mais correntes decorativas maneiristas. A talha dos altares é barroca, de estilo nacional. Os estuques da capela-mor são do séc. 18 tardio e as pinturas do arco triunfal talvez mesmo do 19.
 Paredes autoportantes.

- Materiais:
Alvenaria rebocada e cantaria. Calcário, azulejos, talha, mármores, estuques, telas e pinturas na decoração. Cobertura de telha.

- Bibliografia:
AZEVEDO, Carlos de, FERRÃO, Julieta, GUSMÃO, Adriano de, Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Lisboa, 1963;
MADEIRA, Silva, Elementos Subsidiários para a História do Concelho de Loures, Loures, 1974; s.a, Guia Laranja, Lisboa, 1985;
MOURA, Carlos, O sentido do Barroco na Arte Seiscentista e do início do Séc. XVIII in História da Arte em Portugal, vol. 8, Lisboa, 1986, p. 159 - 178;
VAZ, Maria Máxima, Património Histórico - Artístico, Loures. Tradição e Mudança - I Centenário da Formação do Concelho 1886 - 1986, vol. 1, Loures, 1986, p. 87 - 136;
MECO, José, Azulejaria Portuguesa, Lisboa, 1989; SERRÃO, Vítor, História da Arte em Portugal - o Barroco, Barcarena, Editorial Presença, 2003.

- Intervenção Realizada:
1992 - Execução de nova mesa de altar, ambão e candeeiros;
1997 - Execução de novas coberturas na nave central, capela-mor e anexos Norte;
1998 - Conclusão das beneficiações das coberturas;
1999 - Recuperação do anexo sul (interiores); execução de rebocos, pavimentos e revestimentos, carpintaria e instalações técnicas;
CMLoures / Paróquia: 2001- conservação e restauro das telas da capela-mor;
2002 - Conservação e restauro das talhas de 2 altares laterais (São Miguel e Nossa Senhora da Conceição). Revestimento de azulejo, talhas e pinturas.

- Protecção:
A Igreja Matriz de Camarate, com o seu recheio e o cruzeiro, foi declarada Imóvel de Interesse Público pelo decreto n.º 2/96, de 6 de Março de 1996.


Autor: Paula Noé, 1991


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