Toda a História da nossa Vila de Camarate
O
topónimo Camarate parece derivar do facto de, em tempos, aqui se ter
cultivado uma casta de videira chamada camarate ou, em alternativa, pelo
facto de, na Idade Média, aqui se situar a Camarata Real, onde
pernoitavam os nossos reis, quando se dirigiam para o norte do país.
Mais provável é que o nome derive, porém, do nome de uma família berbere
que aí se destacou sob a ocupação mourisca: os Banu Qamaratti.
Segundo documentos oficiais Camarate terá pertencido a David Negro,
um judeu, ao tempo Almoxarife das Alfândegas do reino. Após a morte do
rei, David Negro foi obrigado a fixar-se em Toledo, onde morreu. Não é
difícil interpretar estes factos. A morte de D Fernando fez o país
mergulhar numa profunda crise social e política em que os 'graúdos',
aqueles que mais 'tinham de seu', tomaram o partido de dar o trono a D. Beatriz
e ao seu marido, o rei de Castela, enquanto que o povo, a 'arraia
miúda', pondo acima de tudo a independência nacional, defendeu que fosse
rei o bastardo Mestre de Avis.
A Batalha de Aljubarrota
resolveu a questão a favor do Mestre de Avis e todos os partidários do
rei de Espanha ou morreram naquela batalha ou tiveram que fugir para a
vizinha Castela. David Negro terá sido um dos ricos que nunca imaginou
que o Mestre viesse a sair-se bem desta questão dado que - e é
importante frisá-lo - Portugal tinha, ainda no reinado de D. Fernando,
perdido três guerras com Castela. Quem perde três, perde quatro,
pensaram todas as pessoas que exerciam cargos de importância no país.
Mas enganaram-se e acabaram no exílio. Aliás, é significativo que David
Negro tenha escolhido Toledo. Era lá que residia o rei de Leão e
Castela, era lá a corte castelhana.
Os numerosos bens de David Negro foram doados pelo novo rei D. João I ao seu precioso aliado D. Nuno Álvares Pereira
para o recompensar dos muitos serviços prestados (1422). De todos os
bens de David Negro, os de Camarate eram, ao que parecia, os mais
valiosos, sendo constituídos pela Quinta do Salter.
E quais eram os serviços prestados por D. Nuno Álvares Pereira ao Novo Rei?
Era tudo!
O Novo Rei devia a coroa ao empenho e esforço de Nun'Álvares - O Condestável.
D. Nuno Álvares
demonstrou ser um nobre português ao provar que os castelhanos não eram
invencíveis. Aos castelhanos soube dar-lhes batalha nos campos
alentejanos e veio animar as gentes de Lisboa que sofriam um cerco
horrível, onde se esgravatava o chão das antigas feiras para comer.
Foi
Nun'Álvares que, para resolver a discussão sobre qual o futuro do rei
de Portugal nas Cortes de Coimbra, quis usar da força das armas - o que o
Mestre rejeitou.
E
foi finalmente Nun'Álvares Pereira que optou e bem por enfrentar o novo
exército castelhano que mais uma vez invadia Portugal, antes que ele
chegasse à capital, contrariando os que rodeavam o Mestre de Avis. O
resultado já se disse, foi a estrondosa vitória portuguesa de
Aljubarrota, que afastou por muito tempo, as veleidades castelhanas ao
trono de Portugal.
Após
a morte do rei D. João I, Nun'Álvares Pereira passou a viver na Quinta
do Salter e nela construiu uma capela em honra de Nossa Senhora do
Socorro. Destes testemunhos históricos apenas existem os restos da
capela que actualmente se encontra na Igreja Matriz.
Durante
a Idade Média, Camarate foi, e até ao 1.º de Maio de 1511, parte
integrante da vizinha freguesia de Sacavém; surge, no entanto, bastantes
vezes mencionada nos documentos, sabendo-se que era - a par de Sacavém,
Unhos e Frielas - terra reguengueira. Fez parte do dote que Fernando I
de Portugal concedeu a sua esposa, Leonor Teles de Menezes.
Por
essa altura, durante o governo de Agapito Colona como bispo de Lisboa,
foi fundada a primitiva Igreja Matriz, entretanto reconstruída e
ampliada.
Por
altura da crise de 1383-1385, uma quinta aí situada, pertença do judeu
David Negro, almoxarife das alfândegas reais no reinado de D. Fernando,
foi confiscada e entregue prontamente a Nuno Álvares Pereira, que aí
passou alguns anos com sua mãe, antes de professar no Convento do Carmo.
Nessa quinta fundou o Condestável uma capela consagrada a Nossa Senhora
do Socorro, a qual viria a doar aos Carmelitas, que aí fundaram um
convento, extinto em 1834.
Por
via de Nuno Álvares Pereira, Camarate viria a ser integrada, mais tarde
ainda, com muitas terras vizinhas, no património da Casa de Bragança.
A
freguesia de Camarate foi enfim criada por um foral (uma carta de
privilégios concedida pelos antigos monarcas de Portugal) de D. Manuel
I, datado de 1 de Maio de 1511, sendo separada administrativamente da
freguesia de Sacavém.
A
partir do século XVI tornou-se um local muito concorrido pela nobreza
lisboeta, sendo afamada pela sua produção vinícola (da casta camarate,
que talvez tenha dado o nome à vila), característica das quintas que
fizeram parte do quotidiano desta freguesia até meados do século XX.
Foi
parte integrante do Termo de Lisboa (até 1852), depois do concelho de
Santa Maria dos Olivais (entre 1852 e 1886); posteriormente voltou a
transitar para o concelho de Lisboa (entre 1886 e 1895); por fim, em
1895, foi integrada no concelho de Loures, onde permanece até hoje. Em 4
de Junho de 1997 foi elevada a vila por decreto da Assembleia da
República.
Desde
meados do século XX, com o desenvolvimento industrial acelerado e
subsequente terciarização, a freguesia tornou-se essencialmente um
dormitório da capital.
Camarate
é também conhecida por ser a terra de infância de um dos mais famosos
poetas de Portugal do século XX: Mário de Sá-Carneiro, pioneiro do
Modernismo na literatura portuguesa e um dos membros da Geração d’Orpheu
em conjunto com Fernando Pessoa e Almada Negreiros.
Acima
de tudo, Camarate é tristemente célebre pelo acidente que tirou a vida
ao então Primeiro-ministro social democrata português, Francisco Sá Carneiro,
à sua companheira e ainda ao Ministro da Defesa democrata-cristão
Adelino Amaro da Costa, na noite de 4 de Dezembro de 1980, a escassas
horas das eleições presidenciais desse mesmo ano, nas quais o candidato
do Governo, o general Soares Carneiro, foi derrotado pelo general
Ramalho Eanes, que contava com o apoio dos partidos da esquerda.
Acidente ou atentado – as duas teses digladiam-se desde há quase vinte e
cinco anos... Essa história esteve na origem do filme Camarate.
fonte: compilação de vária
informação disponível na internet,
e trabalhos elaborados por alunos da
escola eb23 Mário de Sá Carneiro